Darcy Penteado nasceu em 1926. Passou a infância em São Roque (SP), sua cidade natal, até os onze anos, vivendo num casarão da praça da matriz, ao lado dos pais, Francisca Leite Penteado de Campos e Ismael Victor de Campos, e de dois irmãos mais novos, Dirceu e Ismael. Sua mãe apelidada carinhosamente de “dona Chiquita”, mulher de cabelos negros e olhos grandes, foi também grande amiga e confidente.
O menino Darcy adorava andar de bicicleta. Foi uma criança acomodada, mas muito criativa: inventava ou modificava seus próprios brinquedos. Gostava de brincar e nadar na chácara da avó paterna, onde bebia leite de vaca tirado na hora, comia biju doce na fábrica de farinha e pegava içá para “tia velha”, negra alforriada que morava com sua avó.
Desde menino, Darcy mostrou aptidão para as artes. Quando pequeno, criou, com os dois irmãos, um teatro que combinava fantoches e marionetes, e que depois transformou-se numa espécie de teatro ambulante para espetáculos nas escolas e residências. Mais tarde, iria apresentá-lo em programas infantis de TV e em espetáculos no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Aos dezesseis anos, iniciou sua carreira profissional, trabalhando com desenho, mas num gênero pouco criativo: copiava peças numa fábrica de fogões. Ao lado dessa atividade, passou a desenhar moda. A moda o conduziu ao desenho publicitário, profissão que exerceu durante doze anos. Aos dezoito anos, já demonstrava toda a sua versatilidade nas artes: foi colaborador de uma revista humorística, criando charges e caricaturas.
A partir daí, Darcy nunca mais parou, expandindo sempre seu campo nas artes. Foi pintor, retratista, desenhista, ilustrador, figurinista, cenógrafo, escritor e dramaturgo.
Fez inúmeros trabalhos como capista e ilustrador de livros para importantes editoras, suas gravuras podem ser encontradas em Praia oculta, de Domingos Carvalho da Silva, 1949; Mulheres freqüentemente, de Helena Silveira, 1953; Contos de cabra-cega, de Marcel Aymé, 1960-61), premiado pela Câmara Brasileira do Livro em 1962 e outros.
Destacou-se ainda como Melhor Figurinista de 1959 na II Exposição de Artes Plásticas do Teatro (Bienal de São Paulo) por seu trabalho de 1958 para Pedreira das almas, de Jorge de Andrade, e também contemplado, como cenógrafo e figurinista, com os prêmios Governador do Estado e Saci, esse da Associação Paulista de Críticos Teatrais.
A partir de 1955, Darcy Penteado começou a executar retratos, tornando-se nesse gênero artista bastante conhecido, inclusive na Europa.
Com efeito, vivendo entre 1963 e 1968 na França e na Itália, logrou ali se manter graças à aceitação de seus portraits, tendo retratado então personalidades do mundo artístico como Françoise Sagan, Silvana Mangano e Audrey Hepburn.
No Brasil realizou mais de mil retratos, notadamente de mulheres da sociedade, fruto antes de habilidade que da arte.
Publicou alguns álbuns com desenhos das cidades por onde passou e suas viagens.
Como escritor, editou cinco livros, dentre eles quatro de contos com temática homossexual ou críticas a sociedade atual e o ultimo que envolve em um romance os dois temas, e escreveu duas peças teatrais.
Participou ativamente, durante os anos de repressão da ditadura militar, do jornal O Lampião, ativo na defesa dos direitos dos homossexuais.
Como pintor, esteve presente em varias bienais internacionais de São Paulo, na bienal de Paris e seus quadros foram mostrados individualmente em exposições no Brasil, Estados Unidos, Argentina, Portugal, Alemanha, França, Suíça e outros países.
Foi, porém, na Itália que mostrou pela primeira vez suas obras realizadas a partir de elementos "vividos", encontrados no lixo do Trastevere ou em antiquários, as quais se misturavam a avisos fúnebres e religiosos que coletava nos muros romanos.
Essa tentativa de recuperar o tempo perdido iria revelar-se desde então como uma das características permanentes da arte de Darcy Penteado, como o demonstram as séries Sombras da Infância e Musas da Noite.
Nestas séries, iniciadas em 1982, repercute certo sentimento felliniano, aliado a uma infinita nostalgia da infância, dos brinquedos que se foram, dos antepassados retratados em seus trajes domingueiros, tudo isso lado a lado com inquietantes detalhes de pássaros negros acorrentados, a imprimirem ao conjunto a nota surrealisante.
Morreu aos 61 anos, vitimado pelo vírus da HIV, em 1987 e seu corpo foi levado para São Roque, cidade natal, onde foi sepultado.
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